Acaso

"Quando andamos solto no mundo, sem saber em que esquina dobrar, as portas do acaso ficam escancaradas e abrem espaço para cores novas.
Hoje andei sem rumo, pensando na vida. tirei o mapa da cidade do bolso algumas vezes, tentando escolher um ou outro destino e, olhando pro mapa, sentia logo vontade de guardá-lo.
E eis que, então, paro em uma esquina, com a ideia de andar rumo ao coliseu, buscando me orientar, apenas para ver aquilo mais uma vez, e, ao inves de seguir à esquerda e me aproximar do recém escolhido destino-coliseu, entro numa ruela à direita que me convidava com suas paredes estreitas cheias de janelas e grandes velhas portas romanas. andando mais um pouco vejo um movimento de gente, uma igreja escondida e um cartaz que dizia: Requiem de Mozart às 21h, entrada gratuita - eram 20:55 naquele instante. passados 15 minutos, tempo de apresentações microfonadas, entro, ando até o lugar mais próximo da orquestra e do coro, me ponho no chão antes de me emocionar com o acaso que substituia o destino e lacrimejo e sorrio com as melodias que conheço e que tanto me aprazem, com a harmonia do velho Wolfgang Amadeus e do velho-sempre-novo acaso que ofecere tanta maravilha, com a também harmonia dos timbres que ali se manifestavam em meio aos aplausos talvez desnecessarios - além daquela música apenas o silêncio parecia necessário.
Retorno cheio de acaso.
Valeu a pena perder o voo e ficar um dia a mais.
Parece que sempre vale. talvez seja perdendo voos e dobrando naquela outra esquina que a gente vai descobrindo o que parece ter mais cores - ou mais silêncios..."

                                      Marcus Tulius - "In Memoriam"

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